terça-feira, 21 de junho de 2011

3ª Dia de trilha entre Simonstown e Kommetje 11km - Hoerikwaggo South África

São 7h da manhã, dentro de nosso quartinho de hotel observo uma forte neblina pela minha janela entre o mar e nosso hotelzinho. Sandra ainda desmaiada não esboça nenhuma reação. Uma centena de ciclistas passam a minha frente, fim de semanan é dia de pedalar de Cape Town até Simonstown.
Aos poucos vamos nos preparando para o início do terceiro dia que, segundo nosso amigo Pedro, seria um dia bem mais leve, apenas 11km.

Iniciamos a caminhada tarde, por volta das 10h e o sol forte do verão
sulafricano já mostrava suas garras.
Uns oito minutos de subida por uma ladeira íngreme até a entrada da trilha. Logo cruzamos uma pista onde consultamos o mapa novamente. Era só seguir em frente e cruzar por uma pequena fazenda e subir uma trilha em zigue zague e alcansar o platô, depois caminhar até a represa de Kleinplaas e nos refrescar. Caminhada tranquila onde vários moradores levam os cães para se exercitar em uma trilha bem traçada com disponibilidade de mapas suficiente para qualquer criança ter seu "domingo no parque" quero dizer, na montanha.

Encontramos vários grupos de escoteiros que foram passar a noite na montanha, era fim de semana de lua cheia e o tráfego estava intenso na trilha. O Escotismo é uma práitca nacional bem difundida na África do Sul, não é a toa que podemos encontar várias lojas de montanhismo na Cidade do Cabo, eu mesmo havia virado frequentador assíduo de uma dessas lojas que, apresentam uma qualidade e preços poucas vezes encontrados no Brasil. Às margens da represa fizemos um segundo café da manhã reforçado com suco, yogurt, batatinha, pão, queijo, banana e maçã. Ok, estávamos prontos para seguir em frente quando percebemos rajadas de vento muito forte e uma nuvem gigantesca em nossa direção. A fama de que as condições de tempo mudam muito rápido na África dava seu recado. Olho para a represa e vejo os grupos saindo o mais rápido possível e nós estávamos caminhando na direção oposta, ou seja, a tormenta parecia cada vez maior a nossa frente. Um vento forte e frio cortou nossa frente, a represa ficava para tráz e por sorte ou não pegamos a bifurcação errada, o que nos levou para o outro lado da montanha nos afastando da tormenta.

Engano a parte, encontramos novamente a placa "Green Flag". É que existe na África do Sul um instituto que emite certificados de qualidade para trilhas (uma espécie de ISO-Trilhas). Para que um caminho seja aprovado, a drenagem tem que estar bem feita, a trilha limpa e desobstruída, os atalhos fechados, os trechos íngremes dotados de degraus e os abrigos em bom estado. Qualquer um que tenha prática considerável de caminhadas, percebe logo a diferença entre uma trilha assim (que é o caso da Hoerikwaggo) e outras com manutenção inferior. Na verdade não chegamos a nos perder, apenas tomamos um outro caminho que não estava em nossos planos e acabamos visitando sem querer uma famosa township(favela sulafricana). Descemos em silêncio, com a respiração presa e o ... apertado. Bem diferente do Brasil onde poderiamos ter encontrado alguma surpresa pela frente armada até os dentes. Mas a verdade é que estava um sol tão forte que ninguém se arriscava a por a cabeça naquele maçarico. Contornamos o local e nos deparamos com um conjunto habitacional que foi construido para dar melhores condições de urbanismo aos negros poucos favorecidos ou "nada" do continente africano.

Tudo deu certo e logo estávamos subindo outra montanha mais a frente. Lugar estranho, estava tudo queimado, triste de ver, parecia um deserto. Lembro que Sandra ficou na maior deprê por ter visto tamanha destruição. tratamos de seguir rápido e chegar ao outro lado da montanha. O sol cada vez mais forte não dava trégua.
Começamos a então a sentir uma brisa mais suave vinda do mar. À direita avistei o pico Chapsman (que vamos subir no dia seguinte) e mais abaixo entre nós e o mar o farol de Kommetje, onde passaríamos a próxima noite. Ainda paramos para tirar umas fotos em mais uma casamata construída pelo exército sul-africano durante a Segunda Guerra Mundial.

O farol estava lindo, brilhante, todo imponente com seus 33 metros e uma luz dourada do entardecer, estonteante! Lembro que a cena do farol foi uma das coiasa que mais me marcou na caminhada, parecia um portal, um oásis, algo mágico que transformou a arides da subida queimada e do maçarico solar na cabeça de minutos atráz parecerem carinho dos deuses, parecia mesmo uma cena de filme. Incrível como o excursionismmo te leva em poucos minutos da disolação ao êxtase de sentir-se em uma cena de filme.

A descida foi tranquila. De lá para o abrigo foi um pulo. Menos de quinze minutos ladeira abaixo.

Quanto ao abrigo, nem sei como explicar, um verdadeiro capítulo a parte, algo "desumano" para nós trilheiros tupiniquins. Nosso amigo Pedro mesmo estando acostumado a cabritar pelos parques ao redor do planeta não exitou e começou seu discurso.
"O abrigo foi projetado por um arquiteto-paisagista. De longe é quase imperceptível, pois se mescla muito bem com a natureza à sua volta. Possui seis chalés com duas camas cada um. As paredes e o teto de cada chalé são de lona. Já o chão é de madeira proveniente da retirada de espécies exóticas, que começam a ser erradicadas de florestas nacionais incorporadas ao Parque.
Também de madeira de pinus e eucaliptus é a área de convívio do abrigo. Um enorme salão com lareira, mesa, cadeiras e uma cozinha completa com panelas, copos, pratos e talheres – tudo com o logotipo do Serviço de Parques".

Hora de descansar mas, com detalhe. Os carregadores do Parque já deixaram nossas mochilas com roupas e comida no abrigo, é pegar o material, tomar banho, cozinhar e curtir sem dor nas costas!


Na próximo post, iremos de Kommetjie até Silvermine. Vai ser um dia bastante longo e cansativo, mas com praia, naufrágios, montanha e muita subida...